A tal dor de talentos. Até onde ela vai e como lidar com ela?
Vivemos um momento de grandes dúvidas, questionamentos, uma enorme dor de talentos e diversas dificuldades. Acredito que pouco pode-se argumentar contra essa ideia!
Nesse contexto, dois termos têm ganhado destaque: VUCA (Volátil, Incerto ou Uncertainty em inglês, Complexo e Ambíguo) e BANI BANI (Frágil ou Brittle em inglês, Ambíguo, Não-linear e Incompreensível). Ambos surgiram baseados em estudos sobre a evolução das transformações comportamentais que passamos como sociedade e, principalmente, como organizações hoje em dia.
O termo VUCA foi utilizado pela primeira vez no contexto militar, mas acabou sendo adotado no mundo dos negócios para descrever a realidade atual de mercado, marcada por mudanças constantes e imprevisíveis. Empresas precisam lidar com cenários incertos e complexos, tomar decisões rápidas e adaptar-se a novas situações com agilidade.
Já o termo BANI é um complemento do VUCA, e se refere a características da realidade atual que tornam ainda mais difícil lidar com a volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade. A fragilidade, por exemplo, significa que sistemas e estruturas que antes eram estáveis e confiáveis podem se tornar frágeis e falhar rapidamente. A não-linearidade significa que pequenas mudanças podem ter grandes impactos, e a incompreensibilidade significa que é difícil entender completamente as implicações de uma situação.
Nesse cenário cada vez mais incerto, ter as pessoas certas para lidar com essa instabilidade empresarial se torna fundamental.
Uma pesquisa de 2021 do LinkedIn comprova essa ideia: ela aponta que 83% das pessoas que lideram empresas (CEOs) pesquisadas têm como prioridade número um: ter o talento certo.
Interessante que não é capital, não é tecnologia, não é nenhum recurso finito, não acha?
Todos temas extremamente importantes para organizações, porém, a primeira prioridade para CEOs é ter pessoas que possam fazer o trabalho necessário para produzir e servir.
Na minha opinião, é fácil de entender essa necessidade: talentos resolvem todos os outros problemas de capital, tecnologia, recursos, etc. Os demais são apenas meio. As pessoas são a razão de tudo.
E talento certo é cada vez mais difícil de se encontrar. Pessoas capazes de realizar o trabalho das empresas. As altas taxas de desemprego em diversos países do mundo mostram um excesso de profissionais - são 208 milhões de pessoas de acordo com o Fundo Monetário Internacional.
Ao mesmo tempo, muitas vagas não são preenchidas mesmo após meses de sua abertura. Não há um dado oficial com o número de vagas abertas, porém é perceptível o tempo que muitas necessitam para ser preenchidas. Ou seja, de um lado, surgem cada vez mais posições novas e inovadoras, as quais não são preenchidas, já que demandam conhecimentos e habilidades antes não existentes (Por exemplo: uma demanda por "Especialista de ChatGPT", uma tecnologia disponível há poucos meses, me chamou a atenção recentemente). Do outro, há cada vez menos profissionais capacitados e, pior, capacitando-se. Quando somamos aí as questões culturais de cada organização, a equação fica ainda mais complicada. Afinal de contas, as culturas organizacionais são específicas e alinhadas às crenças e princípios de diferentes grupos de pessoas. O famoso fit com a posição, o alinhamento com o perfil, é a conjunção desses aspectos todos: técnicos, comportamentais e culturais. É isso que líderes de empresas no mundo todo mais buscam e o cenário não aponta para a resolução desse problema.
Ok, você pode então perguntar-me como produzimos mais e melhores talentos? Resposta simples: educação constante e ininterrupta de uma base de talentos dentro das empresas! Estou falando de não parar de formar pessoas. Nunca! Ou seja, ser um eterno aprendiz, como na música de Gonzaguinha.
Agora sim, vem a minha principal provocação: como educamos para viver esse mundo VUCA e BANI?
Valorizar o ensino formal, ou seja, a educação de sala de aula. Ser uma pessoa professora hoje em dia é a função mais importante que a sociedade necessita, do meu ponto de vista. Através do ensino formal - isto é, aquele que pesquisou, estudou e comprovou teses, teorias e métodos - é possível começar a caminhada de crescimento. Todos temos de valorizar os professores. Vejo muitas organizações em dificuldade de criar oportunidades de sala de aula para seus colaboradores. Basta pensar como trazer educadores para o dia a dia das empresas.
Promover meios de autoconhecimento. Apenas por meio de entender nossas capacidades e limitações técnicas e comportamentais podemos nos tornar melhores pessoas e, consecutivamente, profissionais. Quem sabe seus pontos de melhoria e aqueles os quais são suas fortalezas consegue mais facilmente encarar problemas, dos mais simples aos mais complexos.
Oferecer oportunidades de desenvolvimento e aprendizado. Precisamos cada vez mais valorizar programas de desenvolvimento de talentos. Principalmente, os de jovens talentos. Tais oportunidades não apenas colocam novos profissionais à disposição do mercado, porém geram inovação por meio dos jovens.
Mentoria e coaching se tornaram palavras da moda, eu sei, não à toa. São mais duas formas excelentes de desenvolvimento. A mentoria oferece a oportunidade de ganhar habilidades através da experiência de um/a profissional. O coaching é mais profundo, pois ataca os comportamentos. Com essas duas ferramentas, vencer as dúvidas que vivemos atualmente torna-se mais fácil. Os programas de desenvolvimento, inclusive, são grandes meios de promover mentoria e mentoria reversa, ou seja, jovens aprenderem técnicas com profissionais mais experiente e ensinarem sobre novas tendências e provocar insights de inovação.
Finalmente, sou um grande defensor da iteração e para que ela ocorra é necessário TODAS as formas acima citadas de aprendizagem. É importante poder verificar constantemente com a gestão ou, melhor ainda, com o/a cliente se o que estamos fazendo é o que foi pedido. E baseado no feedback poder melhorar. E repetir isso diariamente. Sempre buscando aproximar-se ao máximo daquilo que é necessário para o/a cliente Acredito que os programas de desenvolvimento têm feito grandes avanços com essa importante técnica.
Todas essas formas de desenvolvimento, na minha opinião, quando combinadas e balanceadas - quero dizer que não é necessário estar em sala de aula todos os dias,porém recomendo voltar à ela vez ou outra - criam alternativas para aprender com as novidades que surgem, bem como enfrentar as surpresas do mundo atual. Seja uma pandemia, uma guerra, a great resignation, o quiet quitting, os layoffs, seja os avanços tecnológicos tais como a Inteligência Artificial. Basta não parar. E iterar, retroalimentar.
Claro, as empresas precisam preparar-se para atrair e reter os talentos. Implementar iniciativas e programas de recursos humanos que valorizem o desenvolvimento das pessoas é fundamental. Ações tais que permitam construção de um ecossistema de aprendizagem não controlado, porém que permita a conexão dos mais diversos meios de educação. Isto é, não é obrigatório ter um caminho engessado de crescimento, mas sim um meio de entender, reconhecer e promover mais educação.
E você? O que está fazendo para se desenvolver? E sua empresa, o que está fazendo para desenvolver você? E você, profissional de RH e líder, o que está fazendo para desenvolver suas pessoas? Boa reflexão!
Mig, é sem dúvidas um excelente texto. O lifelong learning é algo a ser praticado em todas as áreas da vida. Temos o exemplo aí da parentalidade e da fluidez das relações.
Contudo, do ponto de vista corporativo para além das qualificações e fit cultural, tenho observado que há um grande conflito intergeracional e social. De maneira incrível, estamos vivendo com a galera nascida em 2000, mas que tem muito a aprender com quem é de 60 ou 70. São culturas e modos de vida diferentes. E a riqueza de se inovar ao desenvolver pessoas flexíveis é imensa. Além da geração, outro fator interessante é o recorte sócio-econômico (nem vou entrar no DEI). Já trabalhei com colega da favela …